segunda-feira, 21 de abril de 2008

NA CORDA BAMBA - Balé Teatro Guaíra pode acabar

FOLHA DE LONDRINA - 20/04/08
por Denise Ribeiro

Prestes a estrear mais um espetáculo, Romeu e Julieta, na próxima quarta-feira, acompanhado da Orquestra Sinfônica do Paraná, o Balé Teatro Guaíra (BTG) continua impedido de contratar novos integrantes. Apenas contratos de prestação de serviço estão autorizados. Por isso, dos 31 bailarinos do elenco, 11 terão de deixar o grupo ao final da temporada e outros 14 também sofrem com a instabilidade, já que são empregados em cargos comissionados. Apenas cinco são funcionários públicos concursados.
''Infelizmente vai acabar essa produção e esses bailarinos estarão desempregados. A gente não tem mais bailarino que saiba o repertório porque outros bailarinos têm que ser contratados no lugar desses'', observa a intérprete de Julieta, Alessandra Lange, a respeito dos colegas com contrato temporário. Alessandra é bailarina da companhia desde 2002 em cargo comissionado. ''É uma situação muito difícil. A cada quatro anos vivemos meses de muita angústia por não saber o que vai acontecer ao final do governo'', conta.
De acordo com a diretora do BTG, Carla Reinecke, o governo precisa definir de que forma serão feitas as contratações. ''Se a gente perde um bailarino não pode contratar, só por um tempo curto. Tem que resolver isso primeiro'', aponta a diretora. Para Carla, o BTG é vítima de um longo período de indefinição. ''Não é da noite para o dia que nos livraremos dessa herança maldita que vai se perpetuando. A discussão que permanece é se cabe ou não manter bailarinos e músicos como funcionários públicos. A gente ainda não conseguiu sensibilizá-los (os governantes)'', explica a diretora. Para ela, apontar a estabilidade como incompatível com a atividade artística não se justifica. ''Não são os bailarinos e músicos que são peso morto por aqui'', defende.
Além disso, as diferença entre as formas de contrato geram distorções também quanto à remuneração dos artistas. O salário dos bailarinos concursados variam atualmente de R$ 3,4 mil a R$ 5 mil, dependendo das gratificações e promoções. Caso houvesse um concurso público hoje o salário inicial seria de R$ 2,3 mil. Os profissionais em cargo comissionado e os temporários recebem R$ 1.750 por mês. ''Como alguém na mesma função ganha três vezes mais? A gente não faz por dinheiro mas temos que sobreviver, e dignamente'', afirma Alessandra Lange.
O intérprete de Romeu, Fábio Valladão, também contratado em cargo de comissão desde 1999, conta que por causa da remuneração baixa o BTG já perdeu grandes profissionais. ''A Companhia pode acabar porque está perdendo os bailarinos para outras companhias como Deborah Colker, Balé da Cidade de São Paulo, Quasar Cia. de Dança e Grupo Corpo'', alerta. Já para quem prefere continuar trabalhando na capital paranaense, como a curitibana Alessandra Lange, a dificuldade de seguir carreira na dança aumenta a cada dia. ''Sou de Curitiba e não tenho o menor interesse em sair daqui, mas é difícil'', afirma.
As contratações por meio de cargo comissionado foram suspensas por causa de uma ação popular ajuizada em 2003 pelo advogado José Cid Campelo Filho, ex-chefe da Casa Civil e ex-secretário de Governo na gestão Jaime Lerner, pedindo o anulamento dessas nomeações. A ação foi ajuizada contra os bailarinos do BTG, os músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná, o Governo do Estado, o governador Roberto Requião e a secretária de Cultura, Vera Mussi.
Em 2004, Campelo Filho desistiu da ação contra os músicos e bailarinos. E o processo contra os demais seguiu em trâmite na 2 Vara da Fazenda Pública até o mês passado, quando o autor desistiu de toda a ação por ter que incluir novamente os artistas. O autor alega que a Constituição Federal permite contratar servidor em cargo de comissão apenas em funções de direção, chefia e assessoramento. ''Os artistas não exercem essas funções, mas como estava causando muito transtorno para eles fui obrigado a desistir'', afirma Campelo Filho. ''Fiquei muito arrependido por ter entrado com essa ação. Vendo eles tocarem e dançarem é injusto. Mas essa (contratação) não era a forma cabível'', justifica-se o autor.

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